No mês das mulheres, mães, profissionais e estudantes destaques nas Escolas Técnicas (Etecs) e Faculdades de Tecnologia (Fatecs) do Estado de São Paulo contam suas experiências após terem feito um Intercâmbio Cultural, com tudo pago pelo Centro Paula Souza (CPS). Elas voltaram ao país trazendo na bagagem os frutos de um esforço que só elas sabem o tamanho.
Mãe adolescente e empreendedora
“Para estudar eu fazia um revezamento nos cuidados com minha filha Maya. Às segundas e terças, ela ficava com meus pais, quarta e quinta com a madrinha, e sexta com meu marido”, conta Lívia Bachiega, de 20 anos, recém-formada no curso técnico em Gastronomia, na Etec Prof. Pedro Leme Brisolla Sobrinho, de Ipaussu.
O curso é uma retomada do rumo que Lívia pensou ter perdido aos 17 anos. Mãe adolescente, viveu a dúvida, o preconceito e o medo no final do Ensino Médio.
“Prestei Enem com uma barriga imensa e achei que tinha destruído todas as minhas chances de ter uma profissão. Mas foi só um ano de pausa e voltei para a gastronomia, minha paixão. Hoje trabalho na hamburgueria dos meus pais e tenho minha própria empresa”, diz.
Em nome do filho
Arilane Tancredi também estava na terceira série do Ensino Médio quando engravidou do Lorenzo, aos 19 anos. Mesmo com muitos enjoos e o cansaço da gestação, levou os estudos até o fim e seguiu alimentando o sonho de fazer uma faculdade.
“Quando meu filho estava com um ano eu voltei a trabalhar e consegui entrar no curso técnico em Administração de Empresas, na modalidade de educação a distância (EAD) na Etec. Me formei e já comecei a estudar para o Vestibular da Fatec, mas só passei na terceira tentativa”, conta a aluna do curso superior tecnológico em Gestão Comercial da Fatec Itaquaquecetuba.
A rotina é corrida: pela manhã Arilane trabalha em sua loja online e ajuda o Lorenzo, agora com 6 anos, a fazer lição de casa. No período da tarde deixa o filho na escola e vai para a Fatec, enquanto o marido administra a loja. À noite, se divide entre os cuidados com filho, casa, loja e estudo…muito estudo.
“Apesar de todas as responsabilidades, meus estudos também são prioridade. No ano passado, fiz dois cursos online na UTP (Universidad Tecnológica del Perú ), em espanhol. Era puxado, mas estava muito empolgada. Os professores sempre me incentivaram a não deixar passar nenhuma oportunidade. Foi assim que me inscrevi para o Intercâmbio Cultural do Centro Paula Souza”, explica.
Aos 25 anos, Arilane embarcou para Chicago, nos Estados Unidos, sua primeira viagem internacional. Voltou neste início de março, com a bagagem cheia de lembranças e a convicção de que sempre vale a pena. Mesmo com saudade do marido e do filho, é uma experiência que nunca vai esquecer.
“Sinto que estou vivendo meus melhores dias, aproveitei cada segundo neste lugar lindo, com uma cultura incrível. Espero que mais alunos tenham essa oportunidade. Quem sabe um dia trago meu filho para conhecer a neve também”, diz.
Enfim universitária, aos 38 anos
O Intercâmbio Cultural habitava os sonhos da Marinês Queiroz desde que entrou na Fatec São Sebastião, aos 38 anos. Após concretizar o sonho universitário, buscou realizar a primeira viagem internacional.
“Eu morava em Ilhabela e trabalhava como corretora de seguros. Não tinha tempo nem opção de universidade por perto. Há 13 anos, me casei e mudei para São Sebastião, e a ideia de estudar voltou aos planos”, conta.
Na época, nasceu a filha Camilly, hoje com 11 anos. Marinês seguiu trabalhando como administradora em uma madeireira da cidade. Com o incentivo do marido, prestou vestibular em julho de 2021 e se encantou com curso de Gestão Empresarial.
“Não perdia uma aula, me dedicava ao máximo aos trabalhos e provas. Estava encantada, mas muito estressada com a rotina de cuidados com casa, filha, marido, trabalho e estudo”.
Decidiu sair da madeireira e fazer um estágio com horário reduzido, mais fácil de administrar. Focou no curso e mostrou seu potencial: foi a única selecionada para o Intercâmbio Cultural, em sua unidade.
“Nunca imaginei que seria selecionada. Por isso, fiz questão de aproveitar cada segundo: meu primeiro passaporte, o primeiro voo, cada pedaço dessa cidade maravilhosa e cheia de cultura. Fica a lição de que ser mãe e casada não deve limitar meus sonhos”, diz.
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