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DUA faz shows gratuitos para celebrar raízes da música regional




Fundação Cultural Cassiano Ricardo

Você sabe o que a música produzida em bairros da zona rural de São José dos Campos tem a ver com as tradições musicais venezuelanas, argentinas, colombianas e peruanas?

São essas curiosas similaridades que o público poderá conferir no espetáculo gratuito “Todas as vozes: um rito musical para a terra”, do grupo DUA, que fará uma mini turnê por São José dos Campos, com a participação dos mestres e mestras da cultura popular Ana Maria Carvalho, Deo Lopes, Jongo Mistura da Raça e outros artistas que serão apresentados ao longo da temporada.

O primeiro show será durante o evento Macambada Reunida, no próximo sábado (20), às 18h, com participação de Ana Maria Carvalho.

Outras datas confirmadas são 1º de junho, às 16h, com participação do Mestre Laudeni (Jongo Mistura da Raça), na praça de São Francisco Xavier, e 6 de julho, às 15h30, com participação de Deo Lopes, no Parque Lambari (Campos de São José).

Realizado com recursos do Fundo Municipal de Cultura, da Prefeitura de São José dos Campos, e apoio da FCCR (Fundação Cultural Cassiano Ricardo), “Todas as vozes: um rito musical para a terra” tece diálogos entre o Vale do Paraíba, a Serra da Mantiqueira e outras culturas musicais latino-americanas, como a das tonadas venezuelanas, zambas e chacareiras argentinas, cumbias colombianas e o folclore negro do Peru.

Distrito

Nascido no distrito joseense de São Francisco Xavier, DUA é o encontro entre Maria Luana (Uruguai) e Bruna Prado (Brasil), musicistas dedicadas à pesquisa do folclore latino-americano que moram no distrito joseense e se encantaram com o legado da música local. Sim, a cidade conhecida pela inovação e tecnologia, a capital nacional do avião, tem uma rica história musical preservada especialmente em bairros periféricos e seus distritos, nos quais a comunidade a mantém viva!

Juntas, Bruna e Luana exploram as vocalidades presentes em diversos gêneros de canção de origem rural, suas estruturas rítmicas e o canto a duas vozes, acompanhadas de violão e percussão, e priorizando letras que têm como temática a terra, seus ciclos e os ritos que envolvem a relação entre a coletividade humana e os ciclos da natureza.

Além desse elo da “terra” entre as musicalidades, as artistas logo perceberam outras semelhanças. “As aberturas de vozes, os temas tratados nas letras, a presença dos tambores graves e do violão são alguns desses elementos”, enumera Bruna, revelando que o espetáculo irá contar com cenário e figurino criados pela artista plástica Juliana Strzygowski, inspirados em elementos do artesanato local, como cestos de taboa e redes de pesca, e no imaginário que permeia as canções.

Repertório dos shows

Para a construção do repertório, a dupla trabalhou em cima de pesquisa musical preliminar feita pela produtora Patricia Ioco, que atua no Vale do Paraíba há 25 anos. Depois, partiram a campo em trabalho de escuta e consulta a mestres locais de cultura popular – cancioneiros, violeiros, mestres de jongo e artesãos –, além de casas de cultura e documentos no Museu do Folclore de São José dos Campos.

Os shows trarão músicas de Miriam Cris, Rialcim, Deo Lopes, Nilton Blau, Ana Maria Carvalho, Trem da Viração, Ari da Rabeca, Quinzinho da Viola e Adriana Mudat, além de canções em espanhol de Atahualpa Yupanqui, Jorge Fandermole e Armando Tejada Gomez.

É desafio do espetáculo aproximar o canto às origens, apresentar as canções de forma oral e, a partir da condução das artistas, trazer o público para dentro das obras, experimentando sonoridades e transformando o espetáculo em um rito, onde todos cantam, dançam e celebram juntos, à maneira dos festejos populares.

O encanto do Vale do Paraíba

Nascida no Uruguai, Maria Luana passou por cidades de diferentes países até chegar ao bairro dos Souzas, em Monteiro Lobato, antes da pandemia. Voltou para a região no ano passado, se instalando em São Francisco Xavier. “Me apaixonei pelo lugar, meu coração está aqui e vejo como um bom local para criar raízes”, se declara.

Luana lembra que quando veio pela primeira vez à região, se deparou com um cenário musical que trazia diferenças e também afinidades com a bagagem artística com que teve contato, como as menções ao campo, tão comum nas letras, e o formato voz e violão, fortes também no Uruguai. Mas ela ressalta que foi somente ao longo do projeto que passou a conhecer de verdade essa cultura local. “A gente procurou criar uma relação com a comunidade. O foco é conhecer e conviver com as pessoas, falar da vida, tomar um café com elas. É uma relação humana de afeto, e a música é uma consequência dessa conexão e respeito à cultura inerente a cada um.”

Durante essa aproximação, elas notaram novas influências que dão uma cara ainda mais criativa ao cenário musical de São José dos Campos, cidade conhecida por abrigar pessoas de diferentes localidades ao longo das últimas décadas. “A cultura de todos os lugares é formada pela mistura da cultura das pessoas, e percebemos isso em São José, que tem muita diversidade. O Jongo Mistura da Raça, por exemplo, veio do Rio; a Miriam Violeira, de Minas; a Ana Maria Carvalho, do Maranhão”, opina Bruna, que vive há três anos e meio em São Francisco Xavier.

“Os cantos e ritmos ancestrais nos conectam direto com a fonte, carregam tanta sabedoria, e me trazem essa sensação de estar reconectando com a origem da existência, com o divino, com Deus, enfim, o nome que quisermos dar. Quando tivemos essa ideia de nos conectar com este território que nos acolhe, e com a sua música, as suas canções, senti essa mesma emoção, essa emoção de reconectar com a origem e energia que estas montanhas carregam, é isso é muito especial ”, diz Luana.

As pesquisadoras também identificaram traços marcantes dessa música rural joseense, como a viola caipira, influências da Folia de Reis, figureiras e da cultura afro-brasileira, entre outros.

“Adoro misturas musicais, roça e cidade. Eu e a Bruna somos um pouco isso, mulheres urbanas que valorizam, honram e se conectam com povos originários. Em algumas músicas, fizemos arranjos mais parecidos com o original, mas em outras temos experimentos, uso de instrumentos africanos como a kalimba, o bombo legüero (tambor argentino). É um diálogo entre o nosso universo sonoro e o dos compositores”.

As apresentações em São José serão gratuitas, com indicação livre e terão tradução em Libras. Serão registradas em fotos e vídeos que servirão de material para um minidocumentário sobre a pesquisa e a turnê, que ficará disponível para acesso livre e gratuito em canal do Youtube e páginas do projeto.

Serviço

Espetáculo “Todas as vozes: um rito musical para a terra”

– Dia 20 de abril, às 18h, com participação de Ana Maria Carvalho, na programação do evento Macambada Reunida (Travessa Sebastião Lino da Costa, 955, Bairro dos Freitas – Morro do Carrapato)

– Dia 1º de junho, às 16h, com participação do Mestre Laudeni (Jongo Mistura da Raça), na praça de São Francisco Xavier

– Dia 6 de julho, às 15h30, com participação de Deo Lopes, no Parque Lambari (Campos de São José)

Confira datas futuras na página do projeto no Instagram: @todasasvozes_dua


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